quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Em busca das divas: Parte II - Audrey Hepburn


Ganhei de Natal o desejado box com três filmes da diva Audrey Hepburn: "A princesa e o Plebeu ("Roman Holiday"), "Sabrina" e "Bonequinha de Luxo" (Breakfast at Tiffany´s).
Aproveitei meus dias de pescoço torto, em que forçadamente fiquei de "molho" na cama, longe de sapatos de salto, distante de meu computador e dos agitos pré e pós natalinos, e literalmente viajei para as décadas de 50 e 60. Enquanto meu pescoço permanecia imóvel, minha mente andava por Nova York, Roma, sempre em boa companhia: Audrey Hepburn, Humphrey Bogart, Wiliam Holdey, Gregory Peck...Tudo bem que estamos falando de comédias românticas americanas, gênero de filme que toda mulher gosta, mas estas são de altíssimo nível, coisa rara hoje em dia. O que dizer de um filme que tem trilha sonora de Henry Mancini? Ao som de "Moon River", a garota de programa Holly Golightly (Hepburn) desce de um táxi em uma deserta Nova York, vestindo um longo vestido preto Givenchy e colares de pérolas. Enquanto observa solitária e atenta a vitrine da joalheria Tiffany´s, come rosquinha, toma café, segura um casaco em uma das mãos e faz tudo isso sem sujar o modelito! Essa cena tornou-se clássica e nenhuma atriz como Hepburn esbanjou tanto glamour de forma tão despretenciosa. Um ícone de moda e de atitude, uma atriz completa em cena, enfim, uma verdadeira diva do cinema!
Em "A princesa e o Plebeu", Audrey encarna uma princesa insatisfeita com sua vida, que foge de seus deveres reais para curtir um dia de simples mortal em Roma. Apaixona-se pelo jornalista vivido por Peck e os dois protagonizam cenas lindíssimas, como aquela em que os dois, após retomarem seus deveres do cotidiano - ela como princesa e ele como jornalista - ficam frente a frente em uma coletiva de imprensa e se comunicam com olhares arrebatadores de despedida. Audrey levou o Oscar por sua incrível atuação nesse filme, com apenas 24 anos.
O último filme que vi foi "Sabrina". Já conhecia a história porque tinha assistido ao "remake" de Sydney Pollack, com Harrison Ford e Julia Ormond. No filme de 1954, dirigido por Billy Wilder, os papéis de Linus e Sabrina cabem, respectivamente, a Humphrey Bogart e Audrey Hepburn. William Holden faz o papel do irmão caçula David. Porém a incrível atuação do elenco enterra de vez o "remake" para mim. Audrey cantando La Vie en Rose, Bogie desfilando pura elegância com seus indefectíveis chapéus e até com guarda-chuva...Filmes com histórias simples, roteiros previsíveis, mas que se tornaram clássicos e memoráveis graças a ótimos diretores, atores excelentes, músicos de primeira linha, figurinos de arrasar e uma eterna diva: Audrey Hepburn.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Em busca das Divas do Jazz - Parte I


Nada como uma boa viagem para garimpar AQUELES CDS que são nossos objetos de desejo e que custam uma fortuna na nossa terrinha. Aproveitei que o Real anda valendo mais que o Peso Argentino e lá fui às compras sem medo de ser feliz! Meu foco desta vez foram os CDs de Jazz, principalmente das grandes divas. Estava convicta que minha seção jazzística de CDs pessoais necessitava de um reforço de vozes femininas. Desde que vi na FNAC o desejado CD Body and Soul, da Billie Holiday, por 60 reais (!), cismei que o cataria por todas as prateleiras das grandes lojas especializadas que eu estivesse, assim como o aqui esgotado CD Lady in Satin. Este último então era mais difícil ainda de encontrar. Só importado mesmo e a altos preços. Eis que caminhando pela Calle Santa Fé, entrei na Mega Loja Musimundo e aí começou minha garimpagem por discos da Lady Day, como dizia Lester Young. Quase não acreditei quando achei os mencionados CDs, por 23 pesos em média, cada um. "Lady in Satin" saiu pela Columbia em 1958 e foi o penúltimo álbum de estúdio de Billie antes de sua morte, dezessete meses depois. A gravação sofreu duras críticas na época, tendo sido alegado que o excessivo consumo de drogas e o estado depressivo de Billie tinha afetado muito sua voz e sua performance. Pode até ser que a voz não tivesse a mesma potência de antes, mas ouvindo o CD com o cuidado que ele merece, em faixas como Ï'm a fool to want you" e "You don't Know what love is", mesmo com toda a debilidade física e mental por ela enfrentada, podemos perceber como sua interpretação é emocionalmente complexa. Genial. Para mim, nunca houve e não há ninguém que cante como Eleonora Fagan Gough, ou simplesmente Billie.

sábado, 2 de dezembro de 2006

Ferias em Buenos Aires


Aeroporto de Ezeiza. Olho no relógio: oito horas da noite no horário local. Finalmente cheguei, depois de alguns contratempos causados pelos já habituais atrasos nos vôos saídos do Brasil. Retornar à terra de Gardel, país que aprendi a gostar e admirar é sempre um prazer para mim. Sempre ouvi dizer, antes de estar na Argentina, que o país era decadente, que seu povo sofria de um esnobismo europeu, que havia uma rivalidade muito grande entre portenhos e brasileiros e que nós erámos motivo de piada para eles. Mas quando estive lá pela primeira vez, todos esses pré-julgamentos caíram por terra. Em Buenos Aires, o patrimônio histórico, por exemplo, está melhor conservado do que no Brasil, as praças e jardins públicos são bem cuidados e sem grades, permitindo o acesso de todos a qualquer hora do dia. Isso é ser decadente? Imagine então morar no Rio de Janeiro, onde vivemos sitiados, com toque-de-recolher por volta das dez da noite, separados em "ilhas" de pseudo-segurança e com medo de levar uma bala perdida a qualquer momento? Sem falar que nosso patrimônio público está em péssimo estado de conservação e nossas praças têm hora para abrir e fechar. No domingo, no bairro "Las Cañitas, ao sair para jantar por volta de meia-noite, deparo-me com um restaurante lotado, com fila de espera na porta. As ruas, mesmo de madrugada, estão sempre cheias de gente caminhando: desde crianças pequenas a idosos insones. Daí é possível concluir que se eles estão decadentes, nós estamos muito mais.
Também não senti essa rivalidade alardeada entre argentinos e brasileiros. A não ser quando o assunto é futebol. Nesse caso, certamente eles afirmam que o melhor jogador de futebol de todos os tempos foi Diego Maradona, enquanto nós estamos convictos de que foi Pelé. Fora o esporte, os portenhos são simpáticos e amáveis, adoram saber sobre o Brasil e gostam de viajar para cá. Geralmente vão para Floripa, Búzios e Bahia, lugares de praia e com agito.
É claro que nem tudo são flores na Argentina. O país tem sofrido duros golpes na economia, o que se reflete no aumento do desemprego, da pobreza e mendicância nas ruas e de delitos em geral. Mesmo assim, ultimamente, a vida parece ainda ser mais digna lá do que aqui.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

New Order no Vivo Rio


Quem esteve no show do New Order, nesta última quinta-feira (16.11), pôde assistir a mais um show histórico no Rio de Janeiro e, ainda, conferir as instalações da nova casa de shows "Vivo Rio". O que acharam? Particularmente, a casa em questão não conseguiu honrar o nome que ostenta! Aquele som, o que foi aquilo, gente? Parecia que não estávamos em um show "ao Vivo", mas numa caixa abafada (senti-me ouvindo minha velha vitrolinha vermelha da Philips, guardada as devidas proporções, claro). Eu não consegui ouvir nenhuma palavra dita pelo vocalista Bernard Sumner! Deve ter sido uma dupla decepção para aqueles que também foram ao show no Maracanãzinho em 1988, quando a banda sofreu com problemas na acústica do local!
Ao pagar duzentos reais por um ingresso de pista, imaginei, pelo menos, que veria o que há de melhor em tecnologia de som e iluminação. Nada feito. Resignada com o som tosco, prossegui tentando prestar atenção ao show. Confesso que sou mais fã do Joy Division do que do New Order e, portanto, conheço mais o repertório daquela banda do que desta última. Mesmo assim, curti demais os hits que eles tocaram: Crystal, Blue Monday, Bizarre Love Triangle, True Faith...E o Peter Hook? Ele foi um show à parte, imprimindo um modo muito particular de tocar baixo.
Mas foi quando o quarteto começou a tocar clássicos do Joy Division, como Transmission e o seu hipnótico refrão "dance, dance, dance, to the radio", She's lost control (uma homenagem ao Ian Curtis) e a minha "top ten" "Love will tear us apart", que meu coração acelerou e esqueci de tudo. Pulei, cantei e pensei: sou uma garota de sorte!

-> Minhas dicas para curtir um show : Fique longe: 1. dos fumacentos, exceto se estiver em um show de reggae, porque aí a missão se torna impossível; 2. dos fãs histéricos, que costumam cantar gritando em nossos ouvidos, como se só eles conhecessem as músicas; 3. dos cambistas, nas entradas dos shows ("Tá com ingresso sobrando? Eu compro pela metade e vendo pelo dobro!"); 4. do pessoal que foi para confraternizar e que só quer conversar com os amigos em fundo musical; 5. dos mal-educados que empurram a gente pra se infiltrar lá na frente do palco.

sábado, 18 de novembro de 2006

Parte II: um adendo

Sobre a postagem anterior, acho que gerei uma pequena polêmica quando falei que todos os meus ídolos já morreram. Foi uma constatação pessoal. Eles tiveram um estilo de vida totalmente marginal, sem regras, que obviamente está muito longe da minha realidade. Aqueles que não se mataram propriamente, o fizeram de maneira direta e voluntária, consumindo drogas pesadas, bebendo horrores, vivendo "la vida loca", como aconteceu com Jim Morrison, Hendrix, Cazuza, Billie e tantos outros artistas. Mas se nós formos analisar a época que Curtis viveu, por exemplo, fica mais fácil compreender aquela angústia toda. Além disso, ele tinha crises terríveis de epilepsia, o que o tornou um sujeito instável psicologicamente.
Concordo que o suicídio como escapismo é um ato inconseqüente e injustificável, mas cada um encara a vida de um jeito: uns com otimismo, outros não.
O que me fascina mesmo é amar a obra desses artistas acima de tudo, independentemente do que foram como pessoas, de eu viver em outra época, de ter outra visão de mundo, de discordar daquele estilo louco de vida deles... A música tem sim uma linguagem universal!
- Quem tiver a fim de saber mais sobre Joy Division, New Order e entender mais sobre o movimento punk, que surgiu no final da década de 70, acabou de ser lançado um "pocket book" com o título "Joy Division/New Order - Nada é mera coincidência.", da autora Helena Uehara. Muito bom e de rápida leitura.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

À sombra de Ian Curtis - parte I



Estamos às vésperas do esperado show do New Order no Rio de Janeiro. Faz dezoito anos que os caras não aparecem por aqui e os fãs aguardam ansiosamente a apresentação do quarteto. Mas bem antes do show carioca ter sido anunciado eu já andava meio intrigada com a enigmática figura do falecido vocalista da extinta banda Joy Division, Ian Curtis. Que sujeito foi esse, que cantava com aquela voz soturna, amargurado e deprimido, que tinha ataques de epilepsia no palco e que se enforcou na cozinha de sua casa com apenas 23 anos? Difícil de responder e até de imaginar os verdadeiros motivos que levaram astros da música como Curtis a abdicarem da vida tão cedo. Só para relembrar, perdemos também Jim Morrison, Jimi Hendrix, Curt Cobain,Janis Joplin...E surge então a pergunta-constatação: por que os meus maiores ídolos já morreram? Como já cantava Cazuza: "Os meus heróis morreram de overdose. Meus inimigos estão no poder. Ideologia eu quero uma pra viver." Será que viver sem ter uma causa, um objetivo ou um porquê de estarmos aqui é tão insuportável e angustiante para seguirmos em frente? Para os mais sensíveis às dores do mundo, esse fardo pode ser simplesmente insustentável.


Trilha: Para entrar no clima de emoção e agonia de Ian Curtis experimente ouvir "Dead souls", do Joy Division. Agora, se estiver deprimido ou de baixo astral, fique bem longe do maravilhoso CD "Closer".

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Uma tarde no circo


Não me lembro muito bem da última vez que estive em um circo. Devia ter uns seis, sete anos. Talvez seja por isso que tenho poucas e fragmentadas lembranças circences. Mas ficaram alguns registros indeléveis na minha memória. São sensações, imagens, cheiros...Coisas sentidas e vividas pela ótica de uma criança. Eu me lembro do gosto do algodão-doce colorido, das roupas estranhas dos palhaços, do fascínio que tinha pelos trapezistas e acrobatas dando aqueles saltos mortais e piruetas, do barulho das motocicletas no número do globo da morte...Naquela época, quanto mais tosco o circo se apresentava, mais divertido era o programa para mim. Eu não era muito exigente mesmo. Nem o público que lotava a lona daqueles circos montados na década de oitenta.
Hoje o mundo mudou. Tudo envolve tecnologia e mais profissionalismo. Os circos toscos estão em extinção, dando lugar atualmente para as grandes produções. Até as apresentações estão politicamente corretas, pois não mais se admite a utlização de animais (eu adorava os elefantes adestrados!).
Sofrendo de um saudosismo dos circos de antigamente, lá estava eu, no luxuoso Cirque Du Soleil. E que circo elitista! A começar pelo preço médio dos ingressos, na faixa de R$ 250,00 reais, tudo vendido nas tendas estava a peso de Euro. Um baldinho de pipoca não saía por menos de dez reais e o preço do algodão-doce era de amargar qualquer lembrança açucarada da infância (quatro reais). Mesmo assim, estava disposta a reviver os bons tempos e, em nome deles, comprei um algodão-doce azul. Parece que o público também fazia o mesmo, porque os mais velhos esperavam pacientemente em enormes filas para comprar cachorro-quente e maçã do amor.
Todos seguiam em direção à tenda principal. O espetáculo ia começar e os palhaços, que usavam umas máscaras esquisitas (acho que se eu ainda fosse criança iria me assustar), já esquentavam a platéia com aquelas palhaçadas que nem mesmo a Angélica tinha achado graça, dias antes. Mas foi com os números dos contorcionistas e dos acrobatas que passei a fixar meus olhos - quase sem piscá-los - no picadeiro. Minhas lembranças, aos poucos, ressurgiam e pensei o quanto era lúdico estar ali. A equilibrista graciosa fazendo suas manobras na corda bamba, as mulheres trapezistas dando piruetas e saltos em pleno ar, as boleadoras argentinas, os acrobatas amarrados em cordas elásticas num lindo balé aéreo...Suspirei: estavam lá as memórias da infância, só que com uma nova roupagem, com artifícios luminosos e sonoros. E foi aí que percebi que a magia do circo não dependia daqueles recursos todos, do figurino rico, de toda aquela mega produção, apesar de toda a beleza do espetáculo, pois lá revivi as mesmas emoções de criança, como se estivesse assistindo a uma apresentação num circo tosco da Praça XI.

-> Quem quiser aproveitar o embalo, vale a dica do clássico filme "A Estrada da Vida", de Federico Fellini (vide foto do filme acima).

Para inicio de conversa...


Domingo. Odeio domingo. Procuro me ocupar lendo e ouvindo música, no meu mundinho particular: o meu sagrado quarto.
Olho no relógio: meia-noite. Mas já? Ainda quero fazer um monte de coisas e o dia terminou (ou melhor, outro acaba de começar). Estou sem sono. E agora? Nem pensar em ligar a televisão. Não agüento aquela programação de fim de noite. Fico deprimida. De repente, veio-me a idéia de escrever para alguém, anônimo, um destinatário qualquer que estivesse disposto a ler pensamentos despretensiosos de uma insone. Tal como escrever uma mensagem em uma garrafinha e arremessá-la esperançosa ao mar, torcendo para que um navegante interessado a encontre, resolvi criar um blog. Não deixa de ser uma versão revisitada da garrafinha nos nossos tempos de internet. Fiquei animada. Quem sabe um internauta qualquer - um navegante virtual - encontre as coordenadas de meu blog e capte minha mensagem inicial?
O problema é definir "A" mensagem. Na verdade, o que eu teria de tão extraordinário para transmitir pelas ondas da net nessas horas da madrugada? E se eu escrevesse: "Olá, navegante insone. Hoje é seu dia de sorte, pois você acaba de encontrar o blog da Julunar, que estava totalmente perdido pelo mar virtual, sem rumo e sem destinatários"? É, talvez não seja um mau pretexto, para início de conversa....


Dicas para ler e ilustrar essa mensagem: música "Message in a bottle" (Se você curte Sting & The Police). E se tiver obcecado pela história da garrafinha, veja também o filme "Message in a bottle" (1999), com Kevin Costner, Paul Newman e Robin Wright-Penn, numa adaptação do livro de Nicolas Sparks. Agora, só para alertar, o filme é triste até o fim.